13.7.19

A boa defesa da polícia não é complacente com os abusos de poder

Acabo de ver, do outro lado do Atlântico, via RTP Play (obrigado serviço público),  uma reportagem no noticiário da RTP2 sobre um protesto formalmente inorgânico de polícias e de ouvir pequenos excertos dos discursos institucionais numa cerimónia. Fico perturbado.
Se  não é a polícia que cria os guetos de pobreza e concentrações de problemas sociais que lhe tornam em alguns contextos difícil ser ao mesmo tempo eficaz e justa, não é menos verdade que quando se deixa contaminar pelo ódio ao pobre, seja sob a forma de racismo, seja sob a forma de qualquer outra das ideologias de “naturalização” da suspensão da visão do outro (para o caso, das “pessoas dos bairros”) como cidadão com direito a um tratamento digno,  é ela que está a abandonar os seus deveres perante a sociedade.
Os polícias que transigirem com más práticas policiais de racismo, de violência sem fundamento, de abuso de poder, é contra si próprios enquanto cidadãos de uma democracia que se viram, a menos que não sejam democratas e nesse caso, francamente, é um perigo para nós todos que tenham lugar na polícia. E, não sejamos ingénuos, porque é importante garantir a cultura democrática das polícias não se pode esperar que ela seja um produto espontâneo, nascido das predisposições dos próprios. Tem que ser produzida, pela formação, pelo apoio, mas também pelo controlo e disciplina interna e pela condenação sem temor dos que dela se afastam.
Sim, os polícias devem ser protegidos porque agem em contextos em que muitos de nós não quereríamos e talvez não tivéssemos a força psíquica nem a coragem física para estar. Mas também por isso a boa defesa da polícia, em particular pelos polícias, não é ser complacente com erros ou crimes que esta pratique, ou confundir espírito de corpo com qualquer abuso de poder.

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