28.6.20

Covid19, política e empatia

Não esperava que os hospitais que servem as populações mais atingidas das periferias de Lisboa - Amadora, Sintra, Loures - se sentissem sozinhos, abandonados e sem coordenação do modo que se refere nesta reportagem. A ser verdade, e confio no Público, agora que as vítimas estão maioritariamente, como disse no artigo de ontem, entre os que viajam em terceira classe neste nosso barco, também as autoridades de saúde relaxaram. 
Cresce a sensação de que depois de uma fase de grande concentração no problema, a gestão da diminuição da intensidade, do “depois do pico” (que é só o primeiro) está algo desleixada em todas as pontas, dos transportes, à regulação das condições de trabalho, até como aqui se vê à própria saúde.
Mais, é com preocupação que leio (nos alertas do Observador) que se disse que os focos da periferia não afetam o centro de Lisboa. Mais uma vez, se é verdade, revela dois graves defeitos de atenção. As periferias só não afetam o centro se a exclusão social for tão grande que os bairros estejam mesmo guetizados (e alguns estão, mas as obras e as entregas não são lá). A preocupação com “a limpeza” do centro e o orgulho comunicativo nela revelaria - de novo - a falta de empatia com o sofrimento de grupos sociais diversos daquele que os protagonistas melhor conhecem, fenómeno que já uma vez atacou este governo e que pode explicar muita coisa que está a acontecer - da escassez de meios para adaptar o próximo ano letivo à catástrofe que se abateu sobre este à incapacidade de garantir que os transportes públicos respondessem aos picos de procura adequadamente - mas não é bom sinal. 
Dito isto, também é verdade que passado o momento agudo do medo e com os problemas sociais a agravarem-se com algum atraso face aos de saúde, o próximo semestre não será tempo de ter inveja de quem tem a tarefa de governar.


https://www.publico.pt/1922205

27.6.20

A Covid19 e o elitismo (edição revista e aumentada)

 Público pediu-me que desenvolvesse as ideias que aqui tinha defendido. Eis como ficou o texto em edição revista e aumentada, com o mesmo argumento essencial de que quando a epidemia desce a escala social passamos fácil e erradamente da compaixão para a culpabilização. E esquecemos que há condições sociais para que os novos infetados sejam os que são. Se tiverem curiosidade, aqui fica o texto:

https://www.publico.pt/2020/06/27/opiniao/opiniao/covid19-elitismo-1922076

23.6.20

A Covid19 e o elitismo

Em Portugal os primeiros casos conhecidos de Covid19 vieram inadvertidamente da mobilidade internacional, em particular por motivos de lazer, tendo-se identificado as férias na neve e por motivos profissionais, com a deslocação a feiras. Depois, como sabemos, criou-se a ilusão de que o vírus era socialmente cego e interclassista, propondo soluções que parecem universais mas não o são, como o confinamento e o teletrabalho. Alguns, muitos de nós, puderam ficar em casa, adaptar as suas vidas, estar até mais perto dos filhos, sofremos por não nos podermos visitar, mas compreendemos que havia um bem maior.
Entretanto, muitos outros tiveram que continuar a sair de casa todos os dias, apanhar transportes coletivos e alguns, muitos mais do que quem vê o mundo da sua bolha julga, que o fazer em bairros onde a ausência de contacto é impossível, em habitações onde as condições são precárias. Na altura foram até elogiados porque nos ajudaram, nos encheram as prateleiras dos supermercados, nos mantiveram as ruas limpas, as obras em construção, nos trouxeram a comida a casa.
Muitos desses se não forem trabalhar esta semana não têm dinheiro para viver na próxima e negámos-lhes até a possibilidade de deixar  temporariamente de trabalhar com um subsídio de desemprego universal temporário.
Se a doutrina do confinamento estava certa, o vírus transmitir-se-ia agora mais pelos não confinados. E assim foi.
Mas quando o vírus desceu na escala social, a abordagem começou a mudar. No bairro da Jamaica já não vimos os polícias simpáticos e pedagógicos que aconselhavam os automobilistas na Ponte 25 de abril, nem os encerramentos de estabelecimentos fora das câmaras de televisão. Vimos - porque deliberadamente nos quiseram mostrar - conferências de imprensa policiais e corpo de intervenção a postos.
Os estudos já o demonstraram, o vírus espalhou-se mais pelos concelhos com mais industrialização e níveis socio-económicos mais baixos. Era de esperar. O que não era de esperar é que o discurso da culpabilidade dos pobres, erigidos de novo a classes perigosas,  fosse tão rápido a voltar. 
De repente a linha de comunicação passou a ser a de que há uns concelhos onde há pândega universal, festas ilegais, idas ao café e consumo de álcool. Há séculos que os poderes instituídos tratam assim os problemas de saúde quando descem na escala social. O mundo mudou muito, mas lembrei-me de novo do fantástico livro de Engels sobre a situação da classe trabalhadora Inglaterra em meados do século XIX,.
De repente esquecemos que estas pessoas e estas freguesias continuaram a ir trabalhar, vivem precariamente, pelo que o vírus correria necessariamente o risco de as apanhar, como em tantas pandemias passadas.
É altura de olhar mais para os seus locais de trabalho, para as condições em que têm que lá chegar, para as condições em que vivem. Dá mais trabalho mas é mais eficaz e mais justo que voltar a expandir a ideia das classes perigosas e descontroladas ou de que os pobres adoecem porque fazem muitas festas. Estes nem foram sequer fazer ski.

22.6.20

Ainda o risco de uma crise educativa, agora na dimensão da exclusão absoluta

A exclusão existe. A notícia de que país não quiseram assinar declarações de que devolveriam os computadores cedidos em bom estado no fim do ano por terem medo de os filhos os danificarem, pode levantar o véu sobre muitos problemas diferentes - desinteresse dos pais pelo sucesso escolar dos filhos, desnecessidade dos computadores, receio real de não ter meios para pagar um objeto caro se ele se danificar e mais todas as outras explicações que conseguirem imaginar.
Em quase todas as explicações possíveis estão no fim da linha crianças e jovens que entraram em situação de exclusão escolar.
Essas crianças e jovens - muitas? Poucas? Não é angustiante que o Ministério da Educação não saiba? - perderam este tempo de educação. Estão em risco  agravado de exclusão educativa, porque muitas delas em risco já estavam.
Sempre defendi que a reabertura das escolas deveria ter estado nas primeiras prioridades e não para os exames, para a sua missão educativa que é a sua razão de ser. Tantos países o fizeram. Mas agora, mal ou bem, na minha opinião mal, o ano letivo está no fim.
Se até Boris Johnson percebeu que vai ser preciso recursos educacionais extra, porque protelamos nós a adoção - ou pelo menos a divulgação - de medidas urgentes para o lançamento do próximo ano letivo? Porque não encurtamos as fèrias escolares e voltamos à escola mais cedo? Porque não divulgamos o reforço de meios a que vamos proceder?
Que se passa que leva a tanta incerteza e indecisão?
Já ouvi dizer que há quem seja insultado por querer reabrir escolas. Já fui eu próprio aqui vítima de uma despropositada e incompreensível diatribe de um político que foi muito meu amigo, por não compreender a inércia.
Mas continuo a acreditar que as decisões aparecerão, já não no seu tempo, porque esse já passou. 
Continuo também receoso de que estejamos a deixar uma emergência de saúde transformar-se numa crise educativa como escrevi há uns meses.
(http://paulopedroso.blogspot.com/2020/05/para-que-uma-emergencia-de-saude-nao-se.html?m=0)

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/22-jun-2020/alunos-carenciados-nao-levantam-computadores-por-serem-emprestados-12322959.html

21.6.20

Não tenham medo de estar doentes

Morreu uma pessoa que só conhecia da televisão. Dizem que de uma doença grave. 
Não esqueçam. A depressão é uma doença. Trata-se. É uma doença crónica. Gere-se. 
Se estão tristes para lá do razoável, se o presente e o futuro se emaranham nas vossas cabeças fazendo pequenas coisas crescer ao estatuto de obstáculos intransponíveis, vão ao médico. Como iriam se uma dor de costas vos impedisse de andar.
Por vós, pelos vossos amigos, por todos nós, não nos ponham a chorar no dia seguinte. Não queremos receber cartas a que não podemos responder nem escrever cartas que não podereis receber.
Eu conheço a companhia dessa sensação de que o futuro é uma parede e desse medo de que uma má notícia seja o fim do sentido da vida. Não falo do que li, mas do que vivi. 
Não tenham medo de estar doentes. 

15.6.20

A política social em Portugal da recessão à pandemia

Sobre o fim de 2020 o Pedro Estêvão refletimos e escrevemos sobre a reversão incompleta das políticas sociais em Portugal após os anos da austeridade, numa obra coletiva sobre o Sul da Europa. Entre acabarmos de escrever e o livro sair da editora veio a pandemia e os desafios voltaram a mudar. Mas talvez ajude a pensar porque estávamos menos preparados do que estivéramos para enfrentar os inesperados e grandes desafios atuais.

https://universitas.es/product/social-policy-in-southern-european-countries-after-the-recessionhttps://universitas.es/product/social-policy-in-southern-european-countries-after-the-recession

13.6.20

A ler, porque é bom recordar que Weber recomendava cuidado com o tipo de homens a que entregamos o poder

Fernando Vallespín escreve no El País escreve sobre Max Weber, ética e política nos dias de hoje. Relembra que a ética da responsabilidade que os dirigentes políticos tantas vezes invocam não é a única que preocupava e lhes prescrevia Weber. Há momentos que exigem mandatos morais absolutos e que a simples escolha da ética de responsabilidade sobre a dos princípios não capta. Por isso, recorda Vallespín, Weber diz que temos que ter muito cuidado com o tipo de seres humanos a quem confiamos o poder. Amanhã faz cem anos que Max Weber morreu de uma pandemia e é muito apropriado revisitá-lo. Deixo-vos aqui um extrato do artigo, mas não deixem de reservar algum tempo para ler e meditar sobre todo o texto, sobretudo aqueles que dêem importância ao papel da sociologia na ética e na política contemporâneas.


(...)
Al padre de la sociología moderna le preocupaba mucho “el tipo especial de ser humano” al que le encomendamos el poder

Resulta casi inevitable trasladar algunas de estas reflexiones a la sociedad tecnocrática e hipertecnológica de nuestros días. A la luz de su diagnóstico, el actual resquemor hacia la ciencia, el escepticismo hacia la verdad y la objetividad de los hechos, la proliferación de teorías conspiratorias, serían nuestra forma de reacción frente a esta nueva sociedad digital. Su mejor encarnación puede que sea el populismo, con su vuelta al maniqueísmo —yo soy Dios, tú el diablo— y la priorización de la emoción sobre la cognición. Por eso nos resulta tan estimulante releer desde hoy sus textos de carácter más marcadamente político, tan pendientes por abrir un camino racional, “científico”, a ese mundo tan proclive a la irracionalidad ideológica, e introducir un orden conceptual en el todavía precario ámbito de los partidos, líderes y procesos parlamentarios, el escenario del poder. Y aquí puede que resida lo más importante, sus reflexiones sobre los atributos que deberían acompañar al liderazgo y la ética en la que este debe apoyarse. En definitiva, lo que nos encontramos en esa joya que es su conferencia sobre la política como profesión/vocación.

La distinción que ahí introduce entre ética de la convicción y ética de la responsabilidad ya es de sobra conocida, pero es difícil imaginar otra que capte mejor la naturaleza dilemática de la acción política, cómo el decisor político se ve siempre atrapado entre los mandatos de la moral y las demandas de una realidad siempre sujeta a contingencias. Su opción por la ética de la responsabilidad, la de tener siempre en cuenta las consecuencias de nuestras acciones —la otra, la de la convicción, sería una ética “extramundana”, no soporta la “irracionalidad ética del mundo”— se ha convertido ya en el paradigma en el que, en teoría al menos, se inspiran los grandes políticos. Pero hay veces, nos recuerda el profesor, en que no podemos ignorar los mandatos morales absolutos, el “aquí estoy yo, no puedo hacer otra cosa” de Lutero. Ambas éticas no están en oposición absoluta, deben intentar conjugarse, y “solo juntas hacen al auténtico hombre, a ese hombre que puede tener ‘vocación para la política’”.

En eso Weber no iba desencaminado. Lo hemos podido experimentar a la hora de tener que tomar decisiones difíciles durante la pandemia, preservar vidas y restringir derechos a cambio de reducir nuestro bienestar económico. A veces lo que son consecuencias “deseables” chocan con la aplicación de medios inaceptables. Por eso le preocupaba tanto a Weber el “tipo especial de ser humano” al que le encomendamos el ejercicio del poder, el tipo de hombre “que hay que ser para poner sus manos en los radios de la rueda de la historia”. Me temo que esto último ya lo hemos olvidado.

Ética de Weber para tiempos de pandemia  -  https://elpais.com/ideas/2020-06-12/etica-de-weber-para-tiempos-de-pandemia.html

12.6.20

Sobre política e estatuária


Morrer porque a unidade de oxigénio está avariada

Um pouco por todo o mundo e em particular em África, a toda a hora há pessoas que morrem ou ficam com sequelas graves na sua saúde porque não há condições mínimas de acesso â saúde. Falta tudo. Faltam sistemas de saúde pública, que mesmo em certas funções básicas e fundamentais sejam de acesso universal. Falta atenção dos governos nacionais, que não criaram esses sistemas e, mesmo tendo poucos recursos, os financiam abaixo do que esses recursos permitiriam. Faltam profissionais de saúde com formação adequada, que não têm carreiras que respeitem a complexidade das suas funções e só por razões de generosidade permanecem a trabalhar nesses países quando têm um mercado mundial aberto e procurando-os. Falta investimento da comunidade internacional, que tem estado excessivamente virada para juntar um pouco de coração neoliberal ao combate à pobreza extrema ao seu foco essencial nas infra-estruturais e em por em funcionamento economias de mercado, sem olhar a sistemas de suporte social e à importância de consolidar classes médias. Falta, mesmo quando há recursos e vontade, como parece estar a acontecer nesta pandemia, a essa mesma comunidade internacional foco nas suas intervenções, capacidade de perceber que o que pode funcionar de imediato não é a alta tecnologia que há-de demorar meses a chegar, anos a ter treinados os profissionais que a usem e muito pouco tempo a ficar inoperacional por muitas razões, que vão da falta de energia às dificuldades de manutenção.
A saúde pública em África concentra todos os males dos nossos problemas de desenvolvimento e de (in)capacidade dos nossos sistemas bilaterais e multilaterais de cooperação.
Hoje sabemos que terminou a vida para uma jovem guineense porque a unidade de oxigénio do hospital está avariada. Hoje mesmo por todo o continente outras unidades idênticas e outros equipamentos básicos não estão a funcionar e outros jovens morrerão e a culpa disso, sendo do sistema, é de nós todos, porque somos todos nós que o mantemos. 
O que aprendi em algumas décadas de profissão, que me levaram a alguns destes contextos difíceis, é que tudo isto já era evitável e estes erros do nosso modelo só têm uma vítima - as populações - daí para cima, governos locais, governos dos países ricos, sistema mundial, todos temos culpa. E ainda não é claro que a Covid19 seja o despertador para a necessidade de reforçar a saúde pública no mundo em desenvolvimento e em especial em África. Ainda há riscos de que os recursos agora postos à disposição não vão para onde são precisos e sobretudo não cheguem a ser usados como a real configuração de necessidades exige. Perguntem aos profissionais de saúde desses países e aos que, de fora, conhecem, porque dedicaram a vida a essa causa, o que pode ser feito. E pode ser feito já.

https://www.tsf.pt/mundo/-hospital-guineense-lamenta-morte-evitavel-de-jovem-por-falta-de-oxigenio-12303813.html

10.6.20

Cara SIC, Alcindo morreu de racismo

Vi e revi a notícia do Primeiro Jornal da SIC sobre o homicídio de Alcindo Monteiro, para ter a certeza que não estava a ser enviesado ou preconceituoso.
O alinhamento dos temas na notícia é o seguinte: Alcindo “cabo-verdiano com bilhete de identidade português”, nascido no Mindelo, que partilha a cor da pele com George Floyd, vítima de skinheads, foi encontrado morto em frente à loja de Gianni Versace, que seria ele próprio assassinado em sua casa por motivos desconhecidos, cumpriu o serviço militar em Beja e morreu longe da sua cidade-berço, Mindelo, onde nasceu numa altura em que a “a bandeira hasteada no país era a portuguesa” e termina “porque morreu Alcindo? É mais uma pergunta que fica sem resposta.”.
A intenção da notícia parece boa e começa por dar a informação relevante - um negro morreu às mãos de um grupo de skinheads - e fazer um paralelismo com George Floyd, mas a partida de que o homicídio ocorreu à porta de uma loja de marca para uma deambulação sobre o homicídio do magnate da alta costura nos EUA introduz uma inadmissível confusão de planos. A construção de uma relação de exterioridade de Alcindo com Portugal, no pormenor do bilhete de identidade e o eufemismo na referência a que nasceu durante o colonialismo, revelam uma portugalidade perturbada, que é incompreensível.
Poder-se-ia dizer que foram buscar Versace para ocupar tempo e encher a reportagem, mas faltou a quem escreveu a notícia o tempo necessário para dizer que o homicídio foi julgado e os culpados condenados. Têm nomes que a notícia omitiu.  Mas, inaceitável mesmo, é que se termine com uma dúvida. Alcindo morreu de racismo. Não há nenhuma pergunta sem resposta neste caso.
Esta notícia merecia ser mostrada em cursos de jornalismo. Por tudo o que lá está a mais, tudo o que está ao lado e tudo o que falta.

9.6.20

Nova prestação de desemprego - uma maioria parlamentar muito positiva

O Bloco de Esquerda merece-me aplauso por ter  defendido e congregado apoios para uma medida de último recurso, de apoio a desempregados desprotegidos, tornada urgente pela resposta de saúde pública à Covid19, que lançou e lançará na paragem forçada muitos trabalhadores que não cumprem requisitos de elegibilidade para o subsídio de desemprego, nem qualquer das outras medidas sociais atuais.
Nunca escondi a minha concordância com a proposta, nem que defendia algo parecido - menos ambicioso no montante - com aquilo que ela consagra antes de qualquer partido o ter sugerido, como pode ver quem o queira pelo artigo que escrevi no DN a 2 de abril.
Fico surpreendido por o PS que criou o RMG ter estado contra tal medida até ao fim, aparentemente convencido de que a desproteção social de alguns setores em situação de pandemia não carece de novas respostas ou de que o “buraco” que esta medida pode tapar não existe, não é relevante ou não merece atenção. Mas existe e os desempregados são o grupo mais pobre em Portugal. Os socialistas a quem a ideia de que as respostas atuais são suficientes satisfaz, ou que acreditam no regresso de ajuda alimentar e medidas similares, devem estar aborrecidos com a “maioria negativa” no Parlamento. Mas desculpem dizê-lo assim, socialmente esta foi uma maioria parlamentar muito positiva.


https://www.esquerda.net/artigo/parlamento-aprova-novo-subsidio-extraordinario-de-desemprego-proposto-pelo-bloco/68481

8.6.20

As mulheres e as alterações climáticas

As alterações climáticas não são neutras ao género. São as mulheres que mais sofrem em grande parte do mundo os efeitos de secas e cheias, são elas mais frequentemente as vítimas de movimentos populacionais que reforçam a vulnerabilidade à violência de género. E a questão não é de mulheres, é de todos.
O debate da Forum Energia e Clima é esta quarta-feira 10 de junho pelas 21 horas de Lisboa.
O debate será transmitido na página do Forum no Facebook https://www.facebook.com/forumenergiaeclima/

Eu e a política em 12 minutos, para alun@s do ensino básico

Falar sobre mim e a política em 12 minutos, para um projeto pedagógico na Escola Patrício Prazeres, com alunos de 14-15 anos e sem a interação de uma sala de aulas, não é pequeno desafio para pessoa formatada para aulas de 2 horas a alunos adultos. A tentativa resultou nisto:


Os internamentos sociais e o futuro dos cuidados de longo prazo

Os internamentos sociais vieram à discussão quando em plena crise nos apercebemos que há idosos em hospitais que já tiveram alta clínica, mas não conseguem nem meio familiar, nem encaminhamento para as ERPI (os chamados lares de idosos), nem, quando referenciados, para centros de cuidados continuados. O modelo português de cuidados de longo prazo necessita de ser repensado para enfrentar os desafios do futuro. É para esse debate necessário que na equipa de serviço social do ISCTE pretendemos contribuir desde já com a nossa reflexão. Dia 8 de junho às 17 horas.

7.6.20

O espanto pelas coisas a 7 de junho

Da pergunta sobre se vivemos uma ditadura do presente às desigualdades perante a Covid19, passando pelos países adiaram eleições durante a pandemia e os protestos nos EUA, com uma visita à nova sede da Brotéria. Assim se passeou hoje o nosso  espanto pelas coisas. 

https://www.tsf.pt/programa/a-espantosa-realidade-das-coisas/vivemos-numa-ditadura-do-presente-12287421.html

6.6.20

A mudança da imagem de Portugal no mundo num texto da Fernanda Câncio

A mudança da imagem de Portugal no mundo, um texto da Fernanda Câncio, para que contribui com a minha visão do que senti em quinze anos mais fora que dentro do país, trabalhando sobretudo com gente estrangeira e vivendo fora da bolha nacional.
Vitorino, Barroso, Madredeus, Mariza, Guterres, Expo98, campeonato Europeu de Futebol, Eurovisão e um trabalho consistente no comércio externo e no turismo mudaram muita coisa. Juntem expectativas baixas, paisagens diversificadas, o melhor peixe grelhado, uma espetacular relação qualidade-preço nos vinhos e a ideia de um país de paz e tranquilidade e está encontrada a nova atractividade e notoriedade de Portugal

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/06-jun-2020/do-pais-de-burros-na-rua-para-o-milagre-portugues-o-que-mudou-no-olhar-sobre-portugal--12283422.html?target=conteudo_fechado

4.6.20

A ler, porque a desproteção social tem alternativas

Fernando Rocha Andrade chama a atenção para os setores da força de trabalho que perderam o emprego e não têm acesso a proteção social. Estou com ele.
É certo que parte de uma transposição inicial de uma reflexão sobre a desigualdade nos EUA que se nos não aplica - em Portugal passámos por um período de perda global de rendimentos durante a troika mas não se estão a agravar as desigualdades, por muito contraintuitiva que seja a frase. O nosso Gini está a melhorar e os rendimentos dos mais pobres a subir mais depressa que os dos mais ricos.
Mas isso não invalida o argumento central do impacto da pandemia nas situações de semiformalidade e informalidade. Por mim, acho mesmo que se justificava uma revisão temporária da proteção social para incluir todos os que perdem a sua atividade fruto da crise e não estão cobertos por nenhum dos mecanismos de proteção existentes. Procurei expor essa ideia à algum tempo (http://paulopedroso.blogspot.com/2020/04/solidariedade-nacional-para-com-todos.html?m=1) e vejo com satisfação que BE e PCP apresentaram iniciativas com a mesma inspiração.
Seria bom que os socialistas extraíssem conclusões das preocupações que Fernando Rocha Andrade expõe. Parecidas com as que à esquerda já se propõe ou diferentes, melhores e mais adequadas. O que tenho dificuldade em entender é a desatenção a que foi a crise e sua resposta que criou este desemprego e inatividade e fechar-lhe os olhos para a seguir propor cabazes solidários, ajuda alimentar ou cantinas sociais é andar muitas décadas para trás na cidadania social.

https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/fernando-rocha-andrade/detalhe/os-trabalhadores-a-quem-o-lay-off-nao-chega?utm_medium=Social&utm_source=Facebook&utm_campaign=BotoesSite&utm_content=facebook

3.6.20

E se George Floyd fosse português, saberíamos o que se passou?

Os EUA são surpreendentes na escala das suas contradições. Se são um país em que é possível um ato como o do assassinio policial de George Floyd, em pleno dia, em circunstâncias em que não há qualquer dúvida da não perigosidade do detido e em que ninguém consegue invocar atenuantes significativas para a violência policial, são também a nação em que é possível saber tudo sobre a violência policial, incidência, destinatários, locais em que ocorre.
Todos sabemos que no fim da escravatura ficou na sociedade americana uma profunda fratura social que ameaça a democracia, a qual aliás já tinha sido profetizada pelo olhar atento de um jovem artistocrata francês. Alexis de Tocqueville, na sua produtiva e inspiradora viagem pela América.
Mas sabemos quase em tempo real muito sobre essa fratura. O New York Times notícia que a polícia de Minneapolis usa a força contra cidadãos negros sete vezes mais do que contra cidadãos brancos. É difícil ignorar que há aqui um padrão discriminatório. É mais fácil perceber que há aqui violência seletiva. O NYT mostra também onde essa violência ocorre.
Com as adaptações necessárias à nossa sociedade, talvez o nosso racismo policial e talvez a discriminação social no modo como a polícia atua fossem menos desconhecidas e toleradas entre nós se alguém compilasse os dados e nos confrontasse com algo semelhante. Como não à democracia sem vigilância democrática, esta falha dos media em municiarem a nossa vigilância é uma das nossas fraquezas. Mais que nunca precisamos de imprensa sólida e livre e não de telefones com teclado ou pior ainda, de teclados que telefonam às fontes policiais, judiciais, etc para recolher sempre o ângulo das históricas que convém aos poderes instituídos, deixando-nos no silêncio sobre o outro.


https://www.nytimes.com/interactive/2020/06/03/us/minneapolis-police-use-of-force.html?referringSource=articleShare

2.6.20

A ler, porque sem liderança global o mundo vai piorar mais do que era possível

Gordon Brown pede ao G20 que reapareça, depois de ter feito promessas em março, que não se materializaram e desaparecer do mapa.
Sem ação global concertada, muitos países pobres não terão recursos para os seus deveis sistemas de saúde, continuaram atulhados numa pilha de dívida paralisante, o mundo não encontrará estímulos adequados para a recuperação económica e, não esqueçam os que olham para tudo isto do lado cínico, aumentaram as hipóteses de que o ocidente importe uma segunda vaga de Covid19 de regiões que agora abandona.
Trump, mais uma vez, é o coveiro de serviço do pouco que tínhamos de multilateralismo e o resto do mundo tem que pará-lo, condicioná-lo ou deixar-se arrastar para problemas ainda piores do que aqueles que os pessimistas que são otimistas bem informados antecipariam.
Gordon Brown tem especial autoridade para falar. Economista de formação, foi o Primeiro-Ministro Britânico que na crise de 2008-2009 se bateu no mesmo G20 com sucesso por uma resposta global à grande recessão. Depois, perdeu as eleições. O então DG do FMI, Strauss-Kahn deixou-se apear por uma conduta privada absolutamente censurável e a perda dos dois conduziu a uma visão da crise e da sua gestão que nos arrastou a todos para muito sofrimento desnecessário. Não gosto de usar chavões simplistas, mas se voltarmos a entregar o mundo à coligação de economistas-sacerdotes do neoliberalismo com políticos de vistas centradas no bem estar do seu jardim, ponham os cintos porque o mundo vai afundar outra vez.

https://www.theguardian.com/commentisfree/2020/jun/02/g20-leading-world-out-of-coronavirus-crisis-gordon-brown?CMP=Share_iOSApp_Other