3.2.16

Arrendamento jovem:Quem deu mandato político à Inspecção-geral de Finanças para ter opinião sobre a idade de acesso?

Leio no Diário Económico que a Inspecção-Geral de Finanças avaliou o Programa de apoio ao arrendamento jovem e recomendou, entre outras coisas, que "deve ser redefinida a população-alvo do programa, tendo em vista a alteração da idade máxima para beneficiar do programa, já que os jovens saem de casa dos pais cada vez mais tarde."
Não tenho o texto da avaliação da IGF e dou como fiel da sua recomendação o extracto do artigo que cito.
A recomendação é puramente política e tem subjacente a adaptação da política de incentivos ao arrendamento a um modelo de sociedade que prolonga a permanência dos jovens em casa dos pais.
Os jovens saírem tarde de casa dos pais pode ser uma tendência cultural, o reflexo de um modelo de transição para a vida adulta que prolonga a dependência, reforça o familismo e no limite a reprodução de valores conservadores. Pode também ser apenas o sinal da propagação da precariedade social dos jovens, que adiam a sua autonomia residencial dadas as perspectivas de incerteza sobre as diversas dimensões da sua vida pessoal. Há-de ser, de facto, uma mistura dos dois factores.
Em ambos os casos, a política pública deve, em minha opinião, reunir esforços em várias áreas para contrariar a tendência, tornando neste caso o custo da habitação mais baixo. Mas é perfeitamente admissível que haja quem tenha a opinião contrária. Em ambos os casos a escolha é política e a IGF não tem legitimidade democrática para se meter no assunto.

As Inspecções-Gerais de Finanças e órgãos análogos têm frequentemente posições puramente políticas em vez de se remeterem a uma prudente neutralidade sobre escolhas que não lhes devem pertencer.
Alguém votou na posição da Inspecção-geral de Finanças sobre o momento da vida em que se deve investir na autonomização dos jovens face às famílias de origem?
Mas, o que mais me surpreende é que um jornal económico de referência noticie os resultados da avaliação sem nenhuma interrogação crítica sobre o conteúdo de qualquer das recomendações feitas, sem nenhuma opinião independente ou sequer uma reacção dos avaliados. Custava muito consultar um especialista em habitação ou um outro em política de juventude? Não seria melhor sabermos como foi recebida a dita avaliação? Se é pacífica ou controversa, aceite ou contestada?

Se é assim no jornalismo de referência, imagina-se como será no outro.

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