20.11.18

America First!

Os EUA podem ter sido um líder do mundo ocidental e das democracias liberais de que se gostava ou não. Mas hoje declararam de modo expresso e na primeira pessoa que renunciam a algo parecido com ser tal coisa.
A declaração da Casa Branca sobre a sua relação com a Arábia Saudita é a prova definitiva da visão presidencial sobre os interesses nacionais dos americanos. Nem compromisso com a segurança global, nem envolvimento com regulação multilateral, nem defesa de quaisquer valores tidos como fundamentais. Tudo é trocado por uma visão do comercio internacional assente num jogo de soma nula. Apenas interesse comercial, no caso, no comércio  de armamento e uma definição lapidar da sua visão do mundo, America First! Sem margem para dúvidas.

18.11.18

A excitação do IVA das touradas

O PS anda dividido e o país político exaltado com o IVA da tourada. Uns dizem que é uma questão de civilização. Outros, que é uma questão de liberdade. Mas não alcanço como pensam assim uns e outros. Aceitamos  a barbárie, cara amiga e Ministra, se pagar 13% ou mesmo 23% de IVA em vez de 6%? Não somos livres hoje, caro amigo e camarada Manuel Alegre, porque não paga taxa mínima ou deixamos de o ser amanhã se pagar mais que outros espetáculos?
Os exageros retóricos fazem parte da luta política, mas estes roçam o patético. Indiscutivelmente, o governo quer diferenciar a tourada face a outros espectaculos e, sem dúvida, alguns querem proteger este espectáculo, tornando-o mais acessível aos consumidores. Posições ambas legítimas.
Na verdade, foi o Governo que levou a questão para um terreno a meu ver errado. Preferia que tivesse havido um discurso que assentasse na defesa dos espectáculos cujo IVA se reduz, assumindo que não se quer promover a tourada - e haveria muitas razões para o fazer - do que no ataque àquele cuja taxa se mantém, criando em torno do IVA uma batalha política sobre valores fundamentais e uma tempestade desnecessária. Há diferenciação de taxas de IVA entre bebidas alcoólicas, porque não entre espectáculos? O IVA não se diferencia só nem sobretudo por gosto e por debate civilizacional, diferencia-se por opção política.
Se fosse deputado votava ao lado do Governo, porque não entendo que haja motivo para proteger este espetáculo na lista de bens essenciais. Mas também viveria bem com uma discordância sobre a taxa de IVA de um certo serviço. Aliás, a tabela de IVA está cheia de sinais contraditórios e inconsistentes, de acordo com a capacidade de afirmação de grupos de interesses em cada momento.
Se o grupo de interesse da tourada ganhar a batalha do IVA não vejo a barbárie a avançar e se a perder não vejo a liberdade ameaçada. Mas parece que não acompanho a visão de longo alcance dos nosssos melhores pensadores.
Estou pronto a defender o direito de ir à tourada, sem ser aficionado e para me opor a que a proibam, por uma questão de liberdade. Mas também para dizer que não vejo porque há-de beneficiar da taxa de IVA reduzida.