6.5.17

O partido de Rui Moreira já não é o Porto

Rui Moreira começou por criar um movimento local, que se pretendia transversal às ideologias e centrado na afirmação global da cidade do Porto. Conseguiu.
O PS, com humildade democrática, empenhou-se e fez dos seus vereadores importantes pilares do projecto de cidade do movimento que dizia preocupar-se apenas com o Porto e - recorde-se - com a correcção da desastrada presidência de Rui Rio.
É natural que, se o partido de Rui Moreira continuasse a ser o Porto, o PS acabasse a apoiar esse movimento e que, se Rui Moreira apenas quisesse estar rodeado dos "melhores" quisesse a seu lado de novo quem esteve tão lealmente durante um mandato inteiro.

Mas tudo mudou quando o partido informal de Rui Moreira mudou de estratégia e passou a ter como preocupação central a consolidação do apoio do eleitorado conservador da cidade. A passagem ao discurso anti-partidos em geral, a compreensão para com as talvez necessárias ditaduras temporárias (foi assim que começou a nossa), a esquizofrénica separação entre os bons vereadores que vieram do PS e que passam a ser maus se disserem que são do PS, o receio de que o PS festeje a vitória de um candidato que apoia, tudo resulta da mesma inversão estratégica. 
Rui Moreira quer agora tentar ganhar o Porto pela direita, mobilizando os setores mais conservadores da cidade, entrar numa nova fase da sua governação local, já não assente numa dinâmica transversal às ideologias, mas na afirmação da direita cosmopolita que existe no Porto e tem nele um excelente protagonista. O problema do partido informal de Moreira passou a ser a discussão com o PSD sobre quem lidera a direita na cidade.
Quando isso se torna claro, o PS só pode deixar o general cosmopolita portuense no seu labirinto e abandonar o projecto que já não é para afirmar o Porto e passou a ser uma construção para liderar a direita local.
Perante a mudança estratégica de Moreira só uma resposta era possível, a que o PS-Porto decidiu. Os vereadores que o PS eleger, o Presidente da Câmara se ganhar as eleições, serão no próximo mandato o que foram neste, socialistas que põem um projeto para o Porto acima de todos os outros desígnios políticos, mas que não se envergonham nem escondem o seu partido, ou que o seu partido é de esquerda, não de direita.

5 comentários:

Luís Capucha disse...

Paulo, tenho para mim que ele foi sempre o mesmo e não mudou de estratégia. Mudou de tática. O PS é que nunca recuperou do erro de querer impôr o seu pequeno soba, perdendo estrepitosaamente a Câmara do Porto para o PSD e depois para o independente neo-liberal. E tudo se tornou uma questão de tática. O que é coerente com a orientação do PS para as autarquias, interessa sempre quem ganha, mesmo que ideologicamente e eticamente distante dos princípios do próprio PS. Por isso até escolheu um desses "ganhadores", neste caso uma ganhadora, para coordenadora na Comissão Política das questões autárquicas. Isso tem um preço que está a ser cobrado agora. No resto, quanto à caracterização do déspota tripeiro, estou totalmente de acordo. Sinceramente, nunca me enganou.

jose pedro disse...

Rui Moreira, com o PS, consolidou o seu peso no Porto. O PS já não faz falta. Vamos ver depois das eleições

O Paciente disse...

Estará a acontecer com os partidos o que os partidos fizeram aos eleitores?!

António Barata disse...

Então é esta a estratégia para a campanha do PS para a câmara do Porto...
Como durante o mandato ainda em curso, coexistiram e cooperaram, numa relação e trabalhos que ambos consideram ter sido bons e, não havendo razão objectiva nem argumentos sólidos para combater a actual liderança e o trabalho desenvolvido, é escolhido alguém afastado dos holofotes políticos, ainda que do PS, para lançar o mote do que vai ser a campanha...
Isto sem comprometer obviamente e directamente quer o candidato do PS, quer o partido em si.
Sem dúvida que é inteligente.
Espero que ninguém note...

Isa disse...

E uma geringonça à moda do Porto? Que grandes narizes,a acontecer... E as provas são encorajadoras,ou não?