1.2.17

Quando vai deixar de haver lares ilegais para fechar?

Levamos mais de duas décadas de fecho  continuado de lares de idosos ilegais. 
Os jornais continuam a falar de maus-tratos, más condições de higiene e segurança, deficientes cuidados de saúde e, em geral, de condições que ferem a dignidade humana e estão para além do simples incumprimento de normas técnicas e regulamentos.
Muitos destes lares que são agora encerrados abriram depois de encerrados os lares que antes o tinham sido.
Há, portanto, em Portugal, oferta e procura de lares ilegais e com condições precárias. Mesmo que admitamos, o que julgo muito razoável, que os parentes dos internados nesses lares ignoram o que se passa pelo menos o suficiente para poderem suportar a situação, temos que concluir que há um problema estrutural por resolver. Não é credível que haja uma massa de parentes sádicos que querem ver ou pelo menos intuir que há membros da sua família sofrer.
Sabemos ainda que o acesso a uma vaga num lar de idosos no sector da solidariedade é um processo difícil, frequentemente de transparência pelo menos mitigada e em que se acumulam as listas de espera.
Como sabemos que os preços nos lares legais com fins lucrativos são escravizantes ou incomportáveis para famílias com rendimentos médios, para não falar das de baixos rendimentos.
Sabemos também que o envelhecimento, se permite às pessoas viver mais tempo saudáveis, também trouxe períodos de vida longos com incapacidades graves e, nomeadamente, com saúde mental degradada, difíceis de gerir pelas famílias mantendo a co-residência, independentemente da solidez dos laços afectivos.
Por tudo isto, o problema não se esgota na repetição de manchetes com o número de lares encerrados. Exige políticas públicas que partam da constatação que são famílias como a nossa que se vêem forçadas a opções difíceis. Encarar a responsabilidade do Estado no envelhecimento exige actuar a montante dos lares de idosos.
Ou seja, uma política realista para famílias reais, que assuma o problema real de que o internamento de idosos e outras pessoas severamente incapacitadas em situação condigna e suportável pelas famílias é uma necessidade social não satisfeita. Que tem que ser abordada, incluindo na busca de alternativas ao internamento e na afirmação de que há uma responsabilidade pública no cuidado de idosos, reforçada em casos de dependência física ou demência senil, por exemplo. Mas sem ignorar que há um problema de cuidados por resolver que impele as famílias a aceitar situações inaceitáveis, quando não a agirem de modo igualmente inaceitável.
Enfrentar o envelhecimento é também ganhar consciência de que a questão inclui mas não se esgota nas pensões. Implica ajudar as famílias a não tolerarem o mercado ilegal de lares. E isso implica ter alternativas a este mercado ilegal e infra-humano.




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