O Público abre-se hoje a uma visão fascizante da história portuguesa pela voz de Nuno Melo. O texto do Eurodeputado do CDS tem três linhas de exposição.
Numa, o homem que com o seu partido tentou intimidar professores por terem escolhido um recurso pedagógico audiovisual de um historiador reconhecido pelos seus pares, queixa-se do nível da linguagem que lhe é dirigido. Nada a dizer, a não ser que Nuno Melo está mais habituado a lançar do que a receber impropérios.
Noutra, expõe a sua ignorância sobre o profissionalismo e rigor dos cientistas, neste caso dos cientistas sociais. Para Nuno Melo, um historiador não pode ser simultaneamente uma pessoa com empenhamento cívico e compartimentar devidamente essas duas facetas. É uma posição típica de um ignorante e uma ofensa aos cientistas. Aqui já resvala para o tipo de atitude que vemos em mentes autoritárias para quem não há raciocínios independentes nem distanciados, nem busca da verdade, com rigor e método, apenas propagandas cruzadas. Nuno Melo coloca-se nessa atitude ao nível dos que em cada século, cada um à sua maneira, exigem que a terra não se mova.
Mas na terceira linha, a que verdadeiramente demonstra ao que vem, Nuno Melo amplia a sua ignorante crítica do historiador para um ataque à história, que quer transformar em propaganda. Em Portugal os que glorificam tudo o que diz respeito aos descobrimentos e vilificam tudo o que tem a ver com a 1a República, não estão apenas a ser ignorantes e a não fazer boa ciência histórica, fazem parte de uma narrativa manipuladora da nossa história para fins políticos muito determinados. Como todos sabemos é a narrativa do mito de origem do nosso fascismo. Para que não fiquemos com dúvidas do que tem em mente, embora no seu artigo nada conduza a que sequer saiba o que a palavra marxismo quer dizer, dá-lhe o título que a sua retórica exige, erguendo o dedo ao “marxismo cultural”. Para ser completo é bom aluno da escola que invoca, faltou-lhe denunciar ainda o bolchevismo e o anarquismo. Felizmente não pode atiçar qualquer PIDE contra tais facinoras, pelo que tem que os denunciar na imprensa.
O artigo de Nuno Melo é uma tentativa desesperada de saltar para a prancha do populismo que julga que lhe permitirá agarrar a onda do seu eleitorado. É mais um epitáfio ao partido do centro democrático e social, feito por um ativista do partido populista.
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