24.9.17

O Expresso e o relatório secreto sobre Tancos

No caso do relatório secreto, o Expresso manteria a sua credibilidade se desmentisse os que já o desmentiram e demonstrasse que tem um documento autêntico ou assumisse responsabilidades jornalísticas por erro tão clamoroso. 
Qualquer varredura do assunto para debaixo do tapete de umas meias-palavras e umas semanas passadas coloca-o ao nível do jornalismo que come e amplia acriticamente o que lhe dizem se achar que vende e nesse caso até pode chamar Otávio Ribeiro para diretor, porque já não será digno da sua história.

D. Manuel Martins

D. Manuel Martins faleceu. O PS tinha com ele uma relação contraditória, muito marcada pelos conflitos nos anos 80. Mas era um homem que levava a sério o seu vínculo com o combate à pobreza e o compromisso social da igreja a que pertencia, do Cristo em que acreditava.

Fiquei, de quando me cruzei com ele, com a memória de  alguém que devia ter dificuldades com as hierarquias e que pretendia ser livre nas suas opções, que dizia o que achava necessário dizer. E também de uma pessoa com um bom-humor que acho sempre ser sinal de inteligência. 

Calou-se uma voz forte no compromisso social. De uma força que não tem muitos herdeiros, se algum tiver, na hierarquia de hoje.

8.9.17

O nosso racismo nocturno

Se um dia me dissessem à porta de uma discoteca "pagas mais porque tens gente mal vestida e pretos no grupo", o que faria? O que esperaria que os meus amigos no grupo que queria divertir-se fizessem?
A pergunta  não é meramente hipotética. Ouço histórias deste verão de Lisboa ao Algarve com esta narrativa e  vejo a situação racionalizada por um amigo negro com um "deixa lá, o nosso problema não é dinheiro" e por várias pessoas "que pagaram mais" com um "queriamos divertir-nos e deixaram-nos entrar, não faz mal".
A situação já não está nos não-ditos da ditadura dos porteiros de discoteca ou nos ditos de boca em boca entre clientes. É tudo explícito.
As pessoas com quem converso sobre o tema não são racistas e ficaram desconfortáveis. Mas ficaram noite dentro. Não mudaram de poiso. Não deixaram de lá ir. Não fizeram boicotes, nem apelaram ao boicote de outros. E eu o que teria feito?
O Estado, que deve ter quem leia notícias, não lançou nenhum aviso à nação contra a discriminação racista nos "locais de diversão nocturna". Não conheço nenhuma ação fiscalizadora e nenhum efeito dela, ou sequer nenhum embaraço que tenha sido causado aos espaços de que se queixam aqueles que ouço. Será desatenção minha?

"É a noite", dizem-me. Como se as leis e os princípios tivessem horário de recolher ou devêssemos aceitar que há "santuários" para o racismo. A mim tudo me parece estranho na naturalidade com que vejo este fenómeno ser vivido. Parece-me  incorporação do racismo nas nossas vidas.

3.9.17

O ovo que se partiu em cima da cabeça do PAN

O maior passo em falso do PAN até hoje, este de querer condenar uma prática que já não existe, correndo atrás da oportunidade mediática sem ponderação nem conhecimento do que efectivamente se passa. E entrando a fundo na política pelo lado que mais a nega, isto é pela tentativa recorrente de entregar à justiça a divergência de ideias que deve ser colocado no domínio do debate e da argumentação.
É certo que há práticas que violam os direitos dos animais e devem ser punidas. Mas como julgo que é consensual que tal não inclui partir um ovo, este equívoco do PAN é um bom exemplo de quanto mal andam os políticos quando correm sem ponderação nem investigação atrás de uma oportunidade se mostrarem e melhor exemplo ainda de que anda mal quem vê em cada esquina um pretexto para afirmar uma cultura de proibição. 
Tenho alguma dificuldade em ver o ecologismo português perder a sua componente libertária e evoluir para um animalismo autoritário.