27.5.18

A Itália vai provocar uma constipação de Verão à Europa?

A Europa vai acordar amanhã com uma crise. A Itália é a terceira maior economia do Euro e a recusa do Presidente da República em nomear um ministro anti-euro corresponde, no sistema político italiano, a fazer funcionar um poder que comporta grandes riscos.
Vista do exterior, a escolha do Presidente é justificada. Não é claro que a Itália tenha votado contra o euro no seu voto contra tanta coisa e é evidente que a turbulência económica  que a nomeação geraria poria em risco os interesses de muitos eleitores.
Mas, como é fácil de entender pelos portugueses, a partir da sua própria experiência com as dissoluções do Parlamento pelos Presidentes, o uso dos poderes mais fortes, quase excepcionais, de um Presidente num sistema semi presidencialista implicam uma legitimidade derivada da sua ratificação a posteriori pelo eleitorado.
Se o acto do Presidente da República for entendido pelos partidos como apelo à permanência no Euro e der lugar a um governo diferente do que se desenhava sem eleições (muito improvável) e sobretudo se houver eleições antecipadas e os euro cépticos as não ganharem, os próximos meses verão  o gesto de agora ratificado. Se no fim da linha a relação de forças se mantiver e o mesmo tipo de coligação e de políticas se impuser, a crise política italiana transforma-se muito provavelmente numa crise europeia com repercussões globais. A Itália não é um pequeno país periférico.
Mas já amanhã se pronunciará esse eleitor que não vota e dá pelo nome de mercados. Não sabemos o que fariam sem este gesto presidencial. Mas é bem provável que, mesmo com ele, acordem com  dúvidas sobre o país e receios sobre o euro. É provável que a Europa sinta já e pelo menos uma constipação de Verão.

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