Os neoelitistas na educação nunca aceitaram que a escola é para todos. e não há melhor símbolo dessa rejeição de educar alguns que afirmar simbolicamente a superioridade das retenções, que impõem às criança desde cedo o estigma da incapacidade e põem sobre elas o ónus de uma não progressão na aprendizagem que reside em muitos outros sítios: numa escola que não se organiza para se adaptar às diferenças, numa pedagogia que não consegue integrar dificuldades de aprendizagem, num clima escolar que não estimula suficientemente o trabalho dos alunos, nos pressupostos de que do lado de lá da escola estão famílias teóricas muito diferentes das reais, etc.
Portugal continua a reter muito. Até os neoelitistas são forçados a reconhecê-lo. A doutrina oficial evoluiu há algum tempo e bem para que a retenção deve ser excecional, a medida última depois de todas as medidas que promovem o sucesso educativo falharem repetidamente. Mas a escola continua a conviver bem com o insucesso prolongado. Continua a "arrumar" os alunos nas suas notas negativas e a dar com essa classificação a orientação simbólica de que os neoelitistas necessitam para fazer progredir a sua agenda.
O que nós sabemos por notícias como esta do Público não é a dificuldade que a escola tem para educar os seus alunos, não é nenhuma investigação sobre o que leva a que haja alunos com insucesso generalizado (com muitas notas negativas) ou o que faz a escola para combater ou mitigar sequer essa situação.
O que é considerado notícia e relevante é que há uns alunos que progridem com muitas negativas e que isso "não motiva os alunos". Presume-se que os motivaria mais ficar retidos. Ou será em outros que não os retidos que o pai a que o Público dá voz está a pensar? Os que a escola premeia que se sentem não suficientemente privilegiados por os que têm dificuldades os acompanharem numa escola que lhes começa a ensinar as hierarquias sociais muito cedo.
Já me confrontei há uns anos com essa reacção em casa. E não foi difícil explicar a uma criança que os seus colegas com maus resultados necessitam de ser apoiados e não de ser separados dos colegas e discriminados pelos amigos, colocados com crianças mais novas como se de um castigo se tratasse. Mas fiquei com muitas dúvidas que alguns professores passem esta mensagem e certo que muitos pais a não incorporaram.
Para mim, a notícia é que em Portugal a escola continua a não conseguir ensinar demasiadas crianças.
Mas a notícia para os neo elitistas é sempre que muitas crianças que não aprendem não são devidamente castigadas.
Afinal, para a linha editorial do Público sobre educação, que é a dos neoelitistas,o lema é o inverso de um slogan estudantil do PREC. A melhor escola é a que mais reprova, não a que melhor ensina.
Para mais informação sobre esta matéria consultar aqui: http://www.cnedu.pt/pt/noticias/cne/990-recomendacao-sobre-retencao-escolar-no-ensino-basico-e-secundario
ResponderEliminarBoa tarde, Professor Paulo Pedroso.
ResponderEliminarSó hoje descobri o seu blogue que, seguramente, visitarei com frequência, pois vou acrescentá-lo (no meu blogue)à lista dos blogues que sigo. suricatina.blogspot.com
Na impossibilidade de o ter feito na última aula, quero aqui expressar o qunto gostei de o ter como professor, apesar das poucas aulas que tivemos consigo.
Excelente comunicador, excelente professor e conhecedor daquilo que ensina... Brilhante!
Um grande abraço.
Até um dia destes.
Nazaré Souza Oliveira (MCP)