6.10.15

A austeridade ganhou ou perdeu as legislativas? E vai ganhar ou perder as presidenciais?


Há duas perguntas incómodas mas a meu ver decisivas na interpretação dos resultados eleitorais de domingo e na escolha dos caminhos políticos nos meses que aí vêm. A austeridade ganhou ou perdeu as eleições? Se perdeu, há capacidade política e apoio popular suficientes para lhe gerar alternativas políticas nesta legislatura?
Se a austeridade tiver perdido, como acho que perdeu, a prioridade principal é a da construção de alternativa consistente e com apoio popular à essa austeridade, o que o "quadro macro-económico" do PS manifestamente não conseguiu e implicaria muito trabalho político, com espíritos abertos em toda a esquerda, que está por fazer.
Se as esquerdas escolherem o caminho da construção de alternativas, o modo como se relacionam com as candidaturas presidenciais é uma grande prioridade imediata. Vai Portugal eleger um Presidente da República solidamente comprometido com as alternativas à austeridade ou vai escolher um Presidente que referende o caminho actual?
O empenhamento das esquerdas nas presidenciais e a capacidade política para gerir o caminho que escolherem vai determinar se o pêndulo está ainda a balançar contra o PSD+CDS ou se está já de regresso ao crescimento da direita.

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1 comentário:

  1. Acho que tem toda a razão. É evidente que o grandes derrotados de Domingo são António Costa e o PS, já que não atingiram nenhum dos objetivos a que o Partido se propôs. Como o PSD tem o maior grupo parlamentar, deve ser chamado a formar Governo com o CDS e terá que negociar com o PS a viabilização desse Governo e a aprovação do Orçamento. Julgo que o PS deve deixar passar esse Orçamento, porque de outro modo ficamos sem Governo até Junho de 2016 (a AR só pode ser dissolvida pelo novo PR em Abril, creio). É verdade que existe uma Maioria de Esquerda no Parlamento, mas tal não se traduz numa Maioria de Governo, o PS não vai agora governar com o Programa do BE ou do PCP. Só que a derrota do PS esconde a profunda sangria eleitoral da Direita, que teve o seu segundo pior resultado em Democracia, depois de 2005. É esse o elefante na sala que todos os comentadores de Direita tentavam ontem esconder com um tom que misturava falso triunfalismo e uma clara dose de azedume (veja-se a opinião de João Miguel Tavares ou Henrique Monteiro, por exemplo). Se o PS, e é a opinião deste que interessa, admitiu que o PSD+CDS devem formar Governo, o tom não se compreende a não ser que de facto mostre quão inseguras todas estas pessoas se sentem. Será necessário estudar as dinâmicas de transferência de voto, mas grosso modo a Direita perde (direta ou indiretamente e isso interessa analisar) 5% para o BE e 4% para o PS, indo o restante para os pequenos Partidos, dado que a abstenção foi semelhante (embora ligeiramente superior) a 2011. O que isto revela é uma radicalização do eleitorado, à Esquerda, semelhante ao caso grego. A recomposição do sistema partidário Português começou, de maneira lenta, e a sua principal vítima pode ser o PS, à semelhança do PASOK, mas a Direita não ficará imune a sangrias posteriores. Quanto ao que deve ser feito, espero que o PS tenha o bom senso de guardar a necessária clarificação relativamente à sua Liderança para depois das Presidenciais e da (necessária) viabilização do Governo da Direita, já que uma real alternativa de Esquerda requer tempo e que se parta muita pedra. Se não conseguirem decidir sobre que candidato apoiar (e devem apoiar alguém sob pena de escancarar as portas de Belém a Marcelo Rebelo de Sousa), devolvam a palavra aos militantes e simpatizantes e façam primárias, seria uma excelente maneira de dar visibilidade às candidaturas concorrentes, porque Rebelo de Sousa tem toda a visibilidade de que precisa...

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