26.4.20

A espantosa realidade das coisas - programa de 26.04.2020

Nem ventiladores, nem água, nem sabão. A Covid19 não é tão democrática nas suas repercussões como dizem. Quem vive num país menos desenvolvido e sem sistema de saúde pública eficaz sofre mais. Perante a espantosa desigualdade dos países para lutar contra a Covid19, hoje o meu contributo para o magazine foi sobre estes assuntos.
O jornalista Fernando Alves perguntou ao sociólogo e professor do ISCTE, Paulo Pedroso, se num quadro deste tipo grande parte da população africana não estará afinal arriscando-se a fazer o papel de cobaia, quando as coisas se descontrolarem? "Estará completamente desprotegida", respondeu o comentador residente do magazine dos domingos. "Esses números são chocantes mas não são novos. E esta vulnerabilidade já existia com a gripe e, muito mais, com a tuberculose, com a malária. Os países de África como, de um modo geral, os países desenvolvidos, têm um problema sério a que o mundo não deu a atenção devida, o de falta de sistemas de saúde pública. Isso deriva, por um lado, da pobreza dos países e , por outro, da falta de prioridade da ajuda ao desenvolvimento para o reforço desses sistemas. Não se olhou para a saúde como um elemento básico da sobrevivência desses países. Se a pandemia é uma ameaça a nível global, ela é uma tragédia nos países mais pobres em que entrar, não só em África".
Paulo Pedroso comenta quadros igualmente sintomáticos da extrema vulnerabilidade dos países mais pobres de África. Fala da água potável e do sabão que escasseiam em muitos lugares de África. Há dois anos, as Nações Unidas comprovaram que 97% das casas da Libéria não têm água limpa nem sabão. E é de coisas tão simples, tão básicas, que África precisa neste momento.
E comenta ainda o alerta das Nações Unidas para a possibilidade de a pobreza extrema vir a atingir 62 milhões de crianças em todo o mundo. Elas seriam, desse modo, as grandes vítimas da pandemia devido ao impacto de longa duração provocado pela crise nos países mais pobres. Estamos a falar apenas das crianças lançadas para a pobreza extrema devido à Covid-19, já que um documento da Unicef já o ano passado contabilizava 386 milhões de crianças em pobreza extrema no mundo. Ora isto pode contrariar os relativos progressos que estavam a ser obtidos nos últimos três anos nesta frente que vai das zonas de guerra aos campos de refugiados.
Por fim, reflecte sobre o facto de, em Portugal, mais de um milhão de trabalhadores terem entrado em lay-off, respondendo à pergunta "que percentagens destes trabalhadores terão o seu posto de trabalho de volta quando puderem retirar as máscaras.

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