16.8.19

E se Rui Rio tivesse uma estratégia adequada ao momento?

Todos os dias alguém faz notícia de mais uma agitação nas listas do PSD. Um candidato do aparelho do partido que não aceitou o lugar atribuído, um “histórico” que se sente ofendido por ser preterido por alguém sem currículo partidário suficiente, sem notoriedade nacional, sem experiência.
Para qualquer lado para que me vire, seja para dentro do PSD, para os seus partidos adversários ou mesmo para os jornalistas que seguem a política tudo o que Rio faz é visto como sinal de confusão, fraqueza, desorientação estratégica.
Como não conheço quase nenhum dos políticos que Rio vai trazer para a ribalta - passei em grande parte fora do país os últimos 14 anos - não posso dizer com segurança se os comentadores podem estar todos tão errados quanto me parece.
Mas o que vejo na estratégia de Rio é parecido com o que vi fazer a Constâncio, Sampaio e Guterres depois do cataclismo do PS que se seguiu à liderança do partido de Mário Soares e ao breve e trágico episódio da candidatura de Almeida Santos.
A crise do PSD é profunda. Portugal teve sucesso na estratégia que o passismo considerava suicida (não esqueçam que o próprio Passos disse que se o país melhorasse com ela votaria PS nestas legislativas). Nenhum protagonista de Passos seria hoje credível e ninguém  no eleitorado seguiria uma estratégia de crítica ao PS baseada na que Passos tentou na sua última fase de líder - a de que o país caminhava para o desastre, de que o diabo se aproximava.
O caminho de Rio é estreitíssimo e algumas das suas apostas revelar-se-ão possivelmente grandes erros. Voltando ao PS de 1986, consigo recordar nos protagonistas que então se lançaram alguns que ficaram bem aquém das expectativas.
Mais, é provável que a aposta do PSD esteja centrada em recuperar o poder em quatro ou oito anos e agora apenas em sobreviver e reverter o caminho de declínio, sobretudo em segmentos urbanos, escolarizados, jovens e fiscalmente conservadores, que acham a geringonça em geral e mesmo o PS sózinho incapazes de governar tão liberalmente o Estado quanto gostariam, de fazer os cortes orçamentais que defendem, de retroceder na saúde, no trabalho e na proteção social como quereriam.
Mas, parece-me que ao contrário de quase todos os que ouço e leio, a estratégia de Rio não é suicida ou caótica; é a de enfrentar um aparelho partidário anquilosado e decadente (não é o único) e lançar as sementes de um novo posicionamento político no centro-direita e sobretudo de criar protagonistas a quem o passismo não faça cadastro.
Consigo ver os problemas e os erros de Rio, mas se fosse seu conselheiro e quisesse aspirar a regressar ao poder em quatro a oito anos não lhe recomendava nada muito diferente do que está a fazer.

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