Não esperava que os hospitais que servem as populações mais atingidas das periferias de Lisboa - Amadora, Sintra, Loures - se sentissem sozinhos, abandonados e sem coordenação do modo que se refere nesta reportagem. A ser verdade, e confio no Público, agora que as vítimas estão maioritariamente, como disse no artigo de ontem, entre os que viajam em terceira classe neste nosso barco, também as autoridades de saúde relaxaram.
Cresce a sensação de que depois de uma fase de grande concentração no problema, a gestão da diminuição da intensidade, do “depois do pico” (que é só o primeiro) está algo desleixada em todas as pontas, dos transportes, à regulação das condições de trabalho, até como aqui se vê à própria saúde.
Mais, é com preocupação que leio (nos alertas do Observador) que se disse que os focos da periferia não afetam o centro de Lisboa. Mais uma vez, se é verdade, revela dois graves defeitos de atenção. As periferias só não afetam o centro se a exclusão social for tão grande que os bairros estejam mesmo guetizados (e alguns estão, mas as obras e as entregas não são lá). A preocupação com “a limpeza” do centro e o orgulho comunicativo nela revelaria - de novo - a falta de empatia com o sofrimento de grupos sociais diversos daquele que os protagonistas melhor conhecem, fenómeno que já uma vez atacou este governo e que pode explicar muita coisa que está a acontecer - da escassez de meios para adaptar o próximo ano letivo à catástrofe que se abateu sobre este à incapacidade de garantir que os transportes públicos respondessem aos picos de procura adequadamente - mas não é bom sinal.
Dito isto, também é verdade que passado o momento agudo do medo e com os problemas sociais a agravarem-se com algum atraso face aos de saúde, o próximo semestre não será tempo de ter inveja de quem tem a tarefa de governar.
https://www.publico.pt/1922205
Sem comentários:
Enviar um comentário