29.8.19

Nenhum partido de esquerda vai subir a parada?

A “geringonça” funcionou. Este é o facto determinante destas eleições legislativas. Mas ela foi possível porque apenas um dos partidos que a constituíram aspirava a governar. Os outros queriam marcar a agenda política sem partilhar o poder. O PS foi cuidadoso a cumprir aquilo com que se comprometeu nos entendimentos limitados que o condicionaram e o BE, o PCP e os Verdes separaram sempre a agenda acordada dos pontos não acordados, não deixando que os segundos prejudicassem os primeiros.
Na execução orçamental, bem tentou o PSD agitar as àguas com os instrumentos pesados ativados pelo Ministério das Finanças, mas tendo o Governo conseguido sempre evitar orçamentos rectificativos, os problemas que poderiam vir por esse lado foram sempre minimizados.
Parece hoje claro que o PS, se preferia uma maioria absoluta, sabe que as suas hipóteses de a ter diminuem com a consciência pelo eleitorado da probabilidade de que ocorra. Pelo que a estratégia do PS para a campanha eleitoral se torna clara - tentar a maioria absoluta sem anunciar a tentativa e prometer a geringonça de novo se a tentativa não anunciada se não concretizar.
Com isto, o PS coloca uma pergunta aos eleitores - querem dar-lhe força para governar sozinho? E haverá no centro e à direita quem responda positivamente.
Mas coloca também uma pergunta aos parceiros da geringonça - voltam a estar disponíveis para influenciar a agenda sem partilhar o poder? De quem resposta  positivamente a esta segunda pergunta depende, em caso de ausência de maioria absoluta, a governabilidade do país. E, vendo os discursos iniciais, o PS parece contar com agendas mínimas dos partidos à sua esquerda. Será realista pensar que Bloco e PCP não subirão a parada no que pedem em novos acordos de legislatura? Se não o fizerem será para mim surpreendente, mas excelente para a governabilidade do país.

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