7.1.17

Liberdade, sempre.

"Já todos os portugueses estiveram uma vez comigo e outra contra mim", respondeu-me Mário Soares, então candidato presidencial, numa das poucas conversas pessoais que alguma vez tivemos e em que lhe procurava carregar a tintas negras as hipóteses da sua candidatura.
Hoje é um dos momentos em que todos estão com ele. 
O que fazia de "o Mário" como lhe chamavam os socialistas um ser político único era a forma como combinava a total flexibilidade em relação a tudo o que era conjuntural com o rigor total em relação a tudo o que era fundamental e, acima de tudo, a liberdade, incluindo a sua liberdade de interpretar o mundo e agir, desobedecendo se necessário a todas as conveniências e proximidades.
Estando muito longe de lhe ser pessoa próxima, sinto como português a gratidão por Mário Soares herói da liberdade, sempre e em toda a parte. 
E sinto em relação a ele como pessoa, não posso deixar de o testemunhar, a gratidão devida a quem nunca se calou quando lhe podia ter sido confortável fazê-lo quando a injustiça me bateu à porta.
Não era seu amigo porque não tinha proximidade para isso. Era seu admirador. E estive em relação a ele como todos os portugueses. Sou dos que acham que os heróis são os que são seres humanos com erros e contradições. Soares é um dos meus pouquíssimos heróis.

 

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