14.2.20

Presidenciais: há lugar à esquerda para uma candidatura underdog?

A inclinação de António Costa para não criar dificuldades a Marcelo é um ato racional. Convencido da inevitabilidade da derrota, tendo escolhido um percurso no segundo mandato de regresso a uma solução de governo minoritário que negoceia entendimentos pontuais de geometria variável, que tanto podem, como se viu logo na primeira dificuldade, passar pelo abraço do PCP como pela mão estendida ao CDS, necessita de contar com uma posição cooperante em Belém. 
É certo que a história ensina que Mário Soares não só não agradeceu a não apresentação de um adversário como apressou, com as Presidências abertas de denúncia de vários problemas e desequilíbrios sociais, o enfraquecimento do PSD na última legislatura de Cavaco Silva. Mas, tudo visto e ponderado, o risco de não enfrentar Marcelo patrocinando uma candidatura é para o governo bastante menor do que o de se envolver na batalha presidencial. 
Mas há dados novos na situação política portuguesa face a 1991 que merecem ser considerados por quem esteja menos focado no governo. Marcelo com o apoio explícito ou implícito de CDS, PSD e PS será a encarnação unipessoal do arco da governabilidade, algo que António Costa tinha pugnado por extinguir. Mais importante, se Marcelo for "o sistema", alimentará a fera populista, dando azo a que André Ventura possa expandir o elemento essencial do seu discurso, o de que é o que vem "de fora" em nome "do povo" contra "eles", que neste caso até estão convenientemente para si unidos a uma só voz e ninguém se surpreenda se nesse contexto triplicar ou quadruplicar o resultado do seu partido nas legislativas e se isso tiver algum efeito de arrastamento para eleições seguintes. 
Finalmente, a esquerda democrática terá que escolher entre Marcelo e candidatos com agenda partidária, emanados do BE e do PCP, se não quiser votar com os pés, ficando em casa Perante isto, os sociais-democratas, socialistas democráticos, ecologistas de esquerda que priorizem o seu espaço político sobre as conveniências imediatas de partidos ou governos, os ativistas de diferentes causas sociais, incluindo as sindicais, teriam muito a ganhar em assumir uma candidatura-travão do populismo, mas também de criação de dificuldades ao regresso do arco da governabilidade, uma candidatura de alternativa a que o centro de gravidade do sistema político deslize para a direita, centrado num Marcelo reforçado, depois da estrondosa derrota que esta teve nas eleições legislativas. 

Leia todo o artigo que desenvolve esta minha posição no DN.


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